Lennox-Gastaut – Pesquisas com canabinoides
A síndrome de Lennox-Gastaut (SLG) é um tipo de epilepsia grave que se desenvolve durante a primeira infância e é caracterizada por uma grande quantidade de convulsões. Estudos têm demonstrado que a canabis é uma opção de tratamento em potencial no controle de crises refratárias.
Visão geral da síndrome de Lennox-Gastaut
A síndrome de Lennox-Gastaut normalmente aparece antes dos 4 anos de idade, debilitando o desenvolvimento intelectual e limitando o processamento de informações, o que causa problemas de comportamento. Embora nem sempre a causa da doença possa ser determinada, em muitos casos ela é atribuída à má-formação do cérebro, asfixia perinatal, traumatismo craniano, infecção do sistema nervoso central, condições metabólicas ou degenerativas hereditárias.
Os tipos de convulsões causadas pela SLG podem incluir crises tônicas (enrijecimento do corpo, olhos virados para cima, pupilas dilatadas, padrões de respiração alterados), atônicas (perda momentânea da consciência e tônus muscular, quedas repentinas), ausência atípica (olhar fixo) e mioclônica (contração muscular abrupta). A Epilepsy Foundation, no entanto, observa que as crises mais comuns da síndrome de Lennox-Gastaut são as tônicas e atônicas.
Ainda não existe cura para a doença e casos de recuperação total e eliminação completa das convulsões são raros. É incomum medicamentos anticonvulsivos surtirem efeito em indivíduos diagnosticados com a doença. Além disso, o Instituto Nacional de Doenças Neurológicas e AVC dos Estados Unidos observa que as crianças que respondem positivamente a um medicamento podem mais tarde apresentar resistência e voltar a manifestar convulsões incontroláveis.
Efeitos da canabis na síndrome de Lennox-Gastaut
Uma série de estudos científicos concluíram que um dos principais canabinoides encontrados na canabis, o CBD (canabidiol), é um tratamento terapêutico promissor e muito bem tolerado que tem demonstrado a habilidade de reduzir ou até mesmo eliminar por completo as crises convulsivas 3,5,9,15,26,27,4,17,18,6,4.
O THC (tetrahidrocanabinol) também tem demonstrado eficácia na redução de convulsões em crianças com epilepsia 20. Outro canabinoide encontrado na canabis, o CBDV (canabidivarin), também demonstrou possuir efeitos anticonvulsivos não-psicoativos 1,12. Em um estudo pré-clínico, a administração de canabis ofereceu efeitos anticonvulsivos significativos em ratos e camundongos 11.
A capacidade do CBD reduzir ou eliminar convulsões se deve a seus efeitos no sistema endocanabinoide do corpo 31. O CBD ativa o receptor canabinoide CB1, em seguida, ele diminui a liberação de neurotransmissores reduzindo a excitabilidade neuronal 2,29,14,30,19.
Embora ainda haja necessidade de estudos randomizados duplo-cegos controlados por placebo, pesquisas iniciais sugerem que a canabis é eficaz no tratamento de epilepsias pediátricas graves como a síndrome de Lennox-Gastaut. Em um estudo por questionário, 84% dos pais relataram uma redução na frequência das convulsões de seus filhos após iniciar tratamento com canabis. Destes pacientes, 11% responderam que seus filhos se livraram das convulsões por completo, enquanto 42% relataram uma redução superior a 80% na frequência das crises. Os pais relataram ainda efeitos benéficos, como melhor estado de alerta, humor e sono 25.
Outra pesquisa semelhante descobriu que a canabis rica em CBD resultou em uma redução da frequência das crises em 85% das crianças com SLG, enquanto que 14% experimentaram eliminação total das crises convulsivas. As crianças também apresentaram melhoria no sono (53%), estado de alerta (71%) e humor (63%) durante o tratamento com canabidiol 16.
Outro estudo que examinou os efeitos da canabis rica em CBD em crianças com epilepsia descobriu que 89% delas apresentaram uma redução na frequência das convulsões. As crianças também obtiveram melhorias no comportamento, estado de alerta, linguagem, comunicação, coordenação motora e sono 28.
A análise do caso de uma menina com Síndrome de Dravet, outro tipo grave de epilepsia, descobriu que a canabis medicinal reduziu a frequência de suas crises de praticamente 50 por dia para 2-3 crises noturnas por mês. Além disso, a menina conseguiu abandonar aos poucos as outras drogas anticonvulsivas que estava tomando 21.
Os medicamentos tradicionais usados para tratar a epilepsia não são apenas ineficazes para a maioria, na verdade, é comum eles virem acompanhados de uma série de efeitos colaterais adversos. Os canabinoides, no entanto, têm demonstrado produzir efeitos anticonvulsivos em estudos preliminares em humanos, produzindo menos efeitos colaterais do que as drogas tradicionais 8. Um estudo por questionário descobriu que alguns pais tentaram em média 12 drogas anticonvulsivas e, devido a sua ineficácia ou seus efeitos colaterais inaceitáveis, abandonaram o tratamento, finalmente encontrando uma melhor eficácia e alívio com derivados da canabis 25.
Estudos recentes com a canabis no tratamento da síndrome de Lennox-Gastaut
- Canabis rica em CBD reduziu a frequência das convulsões de 85% das crianças, sendo que 14% apresentou ausência total das crises. As crianças também observaram melhorias no sono (53%), estado de alerta (71%) e humor (63%). Eficácia observada em extratos de canabis ricos em canabidiol para o tratamento de epilepsias pediátricas: um papel em potencial para espasmos infantis e síndrome de Lennox-Gastaut.
http://www.epilepsybehavior.com/article/S1525-5050(15)00157-2/fulltext - A canabis reduziu a frequência das convulsões de 84% das crianças, enquanto que 11% apresentaram eliminação total das crises convulsivas. Outros efeitos incluem melhorias no estado de alerta, humor e sono. Resultados de uma pesquisa com pais de crianças com epilepsias pediátricas resistentes a tratamentos utilizando canabis rica em canabidiol.
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4157067/ - A canabis oferece efeitos anticonvulsivos significativos em ratos e camundongos. Extratos de canabis rica em canabidivarin como anticonvulsivante em ratos e camundongos através de um mecanismo independente do receptor CB1.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23902406
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